Ontem, um amigo belga queixou-se: "Então você anda a fazer ironias com as diferenças linguísticas do meu país? E já alguma vez foi ao bairro de Marolles, em Bruxelas, ouvir uma outra nossa sonoridade linguística?" Quando lhe disse que já tinha ido ao Petit Lion, na rue Haute, há muitos muitos anos, ganhei a paz. Mas, aqui entre nós, talvez por azar meu, nunca ali ouvi o tal "Bruxellois".
Sem os belgas - verdadeiros, casuais, falsos ou inventados - o mundo não teria a mesma graça. (Já um dia fiz aqui essa discutível lista). Sem o Tin Tin & Hergé, o Brel, o Edgar P. Jacobs, o Magritte, o Simenon, o Horta, o Ensor, o Delvaux, o Lévi-Strauss (o Claude, não o das jeans). E, claro, também o Jacky Ickx, o Eddy Merckx e o grande Michel Preud'homme. E, sempre, o imenso Poirot. E quem sabe que lá nasceram a Yourcenar, o Johnny Hallyday e até a Audrey Hepburn? E o Adamo, que cantou a "Dolce Paola" (senhora hoje com os seus 87 anos), ela que nasceu na Itália mas deu aos belgas o seu atual rei - que não é rei da Bélgica, mas "dos belgas", note-se.
ps - olhei o título e lembrei-me das "belgas". Quem eram as "belgas"? O restaurante "A Travessa", na Madragoa, onde se comia lindamente, que já desapareceu há décadas, era conhecido como "as belgas". Porquê? Porque uma das proprietárias, a Vivianne, era belga e a outra, a Sofia, assim foi "nacionalizada". As "belgas" cindiram-se, como é da natureza dos belgas e, pelos vistos, das "belgas" ... A Vivianne fez o "Travessa do Convento das Bernardas" (que ainda existe) e a Sofia o "Guarda-Mor" (que já desapareceu com esse nome).
E, já agora, alguém se lembra que houve em Lisboa, perto da Alameda, um restaurante belga? Chamava-se "Chez Armand". Do que eu me lembro quando tenho apetite...
8 comentários:
ah, o maior é o brel. foi com ele que aprendi o francês falado (muito para além dos livros do liceu): claro, límpido, com todas as sílabas (e mesmo mais rápido do que qualquer rapper moderno, como em vesoul). e na companhia do jeff ou da frida la blonde...
ce soir j'attends madeleine
on ira au cinema
je lui dirai des 'je t'aime'
madeleine elle aime tant ça
Que bela publicação sobre a riqueza cultural e histórica dos belgas! Realmente, sem esses nomes e figuras tão diversos — de artistas, escritores, desportistas a personagens históricos — o mundo certamente perderia uma parte da sua graça e diversidade. É cativante pensar em como esses belgas contribuíram de tantas formas diferentes para a cultura, a arte, o desporte e até mesmo para a história do mundo. Obrigada por compartilhar essa homenagem tão carinhosa e cheia de admiração.
A antiga vila de David e Alice Van Buuren em Uccle, uma joia entre os museus de Bruxelas, é uma obra de arte total. Ele incorpora por si só a imagem ideal do art déco. Neste verão, o jardim e o interior serão complementados com esculturas que completam o quadro.
Até 28 de junho no Van Buuren Museum & Gardens, Uccle,www.museumvanbuuren.be
Senhor embaixador, uns seriam franceses e outros holandeses... As coisas são mesmo assim. E nos dias quer correm, talvez seja muito habitual é ouvir falar uma variedade qualquer de árabe.
Infelizmente, também nos deram personagens como o rei Leopoldo II, e já nem falo dos escândalos de pedofilia.
Já agora a Art nouveau e o Victor Horta
Belgas, belgas... E as bolachas, senhor embaixador?
Já agora o meu favorito pintor James Ensor
Dizem alguns franceses que na Bélgica o fundo das garrafas tem gravado: "Não tentar abrir por este lado".
No início da minha vida profissional (com direito a recibo de ordenado e descontos para a SS) trabalhava ali pela rua Garcia de Orta e a Travessa era um dos locais onde ocasionalmente se almoçava. Uns anos mais tarde quando me casei foi na Travessa que juntei os meus pais e os pais da noiva para travarem conhecimento. A Travessa faz de certa forma parte da minha vida ...
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