segunda-feira, junho 23, 2025

Com dedicatória

O anti-americanismo radical é a doença senil do pós-comunismo de alguns. Por princípio, são contra a América, o mau da fita. A arrogância política da América muitas vezes dava-lhes forte razão. A chegada de Trump mudava a cara dessa sua odiada América: olá, afinal havia outra!

A América de Trump dava-lhes imenso jeito: amigo de Putin (o seu "next best", depois da queda do muro), aliado de quem na Europa não gosta dela (mesmo que "facho", desde que contra Bruxelas), Trump atacava a ordem mundial e eles eram pelo quanto pior melhor e depois logo se vê.

Agora Trump trocou-lhes as voltas: não tira todo o tapete à Ucrânia, faz o que o lóbi de Israel manda e ataca o Irão, que chateava o ocidente, onde vivem mas que desprezam. Enfim: vendo bem, para eles, isto acaba por ter uma vantagem: já podem voltar a detestar a América à vontade. Na sua infelicidade, estão felizes.

17 comentários:

Anónimo disse...

Muito sinceramente, eu acho que comecei a ser antí-USA ao tempo em que vinha para a rua protestar contra a guerra no Vietnam, com as canções da Joan Baez e do Bob Dylan, no bolso.

Por essa altura, de tão jovem que era, nada sabia de comunismo, capitalismo e muito menos de marxismo, assunto a que cheguei muito mais tarde, bem mais tarde.

Depois a história é o que é. Foi a América latina, tantos países controlados, tantos governos destituídos. Os EUA policiam o mundo. Mais de 800 bases militares espalhadas por todos os continentes. Uma moeda que não tem valor referenciado à sua economia, mas que imprimem em abundância. E tudo o mais que se sabe, absoluto desrespeito pelo direito internacional (Iraque, Sérvia, Cuba), prisões clandestinas e outras práticas absolutamente desumanas, etc., etc.

Conclusão, em meu entender, não é preciso ser comunista ou ter sido comunista ou ter uma qualquer ideologia, basta ter-se bom senso e acreditar que é possível um mundo melhor sem esse poder absoluto, basta isso, para se estar contra o poder político americano, seja ele “democrata” ou “republicano” porque em termos externos são exatamente a mesma coisa.
J. Carvalho

João Cabral disse...

Oh senhor embaixador, obrigado por dizer tão eloquentemente o que eu queria transmitir. Exactamente isto!

sts disse...

O anti-russismo radical é a doença senil de muitos anti-comunistas facholas.

ematejoca disse...

É verdadeiramente fascinante apreciar as distintas opiniões dos três comentadores.

Joaquim de Freitas disse...

Deve ser difícil a um antigo diplomata que conviveu durante anos, nas altas esferas da ONU e do mundo diplomático americano, fazer o processo dos EUA desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e as suas guerras por todo o lado, com o seu longo cortejo de milhoes de mortos, e de miséria de toda a espécie que provocou.
Posso perdoar o anti comunismo e a russofobia visceral, congénitas talvez, mas não a falta de compaixão pelas vítimas dum genocídio, e de justiça, sobretudo quando provém da maior potência económica e militar do planeta. Que não ousou bombardear a Coreia do Norte, mas o Irão, com o qual negociava um acordo, depois de ter anulado o que existia e era respeitado escrupulosamente.

Porque é que Netanyahu bombardeou hoje? Existe um calendário nuclear que explique isso? Sim. A 15 de Junho, foi agendada uma nova ronda de negociações nucleares entre os EUA e o Irão. A 12 de Junho, o Irão anunciou que tinha atingido os 60% de enriquecimento de urânio e era capaz de acelerar o enriquecimento. Pode-se supor que isto era para pressionar a retoma das negociações. E Netanyahu iniciou os seus bombardeamentos a 13 de Junho.

Porquê estes ataques, que na melhor das hipóteses atrasarão um pouco a bomba iraniana, que ainda está longe de estar pronta? Obviamente para impedir as negociações nucleares entre os EUA e o Irão. Depois, sem dúvida, para desviar as atenções do que se passa em Gaza e na Cisjordânia.

Lúcio Ferro disse...

Lá está, o direito internacional bem nos avisa a termos cuidado com os anti-americanos e anti-europeístas primários, esses traídores de classe que usufruem tudo de bom que o Ocidente lhes traz e que só o criticam. Pulhas, opõem-se a guerras justíssimas que só trazem felicidadade e bom viver aos povos; sacanas, estão contra o aumento exponencial dos orçamentos armamentistas; cretinos, não percebem que isso de saúde e de educação tendencialmente gratuitas são perigosas ideias comunistas; crápulas, acham que é mau ter uma comissão europeia que dita o que deve e não ser feito, não raras vezes em contratos acordados por sms, não aceitando que isso da soberania nacional e da accountability, como se diz em estrangeiro, também são nocivos conceitos comunistas; malandros, não perceberam que se não travarmos os putinistas, verdadeiros herdeiros dos comunistas, em breve os teremos no cabo da Roca a ditar a sua lei e não a nossa, a mandar às malvas o nosso direito internacional, a nossa liberdade suprema de podermos todos ir dormir para debaixo de uma ponte, embora só alguns o façam, a benesse que é termos oligarcas que ganham mil vezes mais do que cada um de nós mas que em contrapartida nos propiciam excelentes seguros privados de saúde e magníficos planos privados de educação enquanto nos vendem casasa preços de saldo conquanto nunca venham a ser verdadeiramente nossas, mantendo-nos em perfeita sintonia com os seus maravilhosos ideais com prestimoso auxílio do crédito fácil. É isso mesmo, só não o vê quem despreza a Europa, esta Europa, este paraíso de igualdade, de participação dos cidadãos informados nas decisões que a todos afetam, nesta sociedade em que a comunicação social é o farol das virtudes, verdadeiro educador das massas e onde os políticos, à excepção desses ressabiados dos comunistas ou ex-comunistas, são todos muito bonitos, fotogénicos, uns andam de mota, outros jogam volley de praia, cumpridores, produtos perfeitos e acabados da Europa das escolinhas e das universidades partidárias; políticos que quando não estão nos governos nacionais estão nas comissões europeias, quando não estão nas comissões europeias estão nas goldaman sachs e que venham mais armas e exércitos robustos e que interessa se os combustíveis aumentam e que interessa se há inflação e que interessa se não há cuidados de saúde e que interessa se não há escolas e que interessa se todos os dias de madrugada uma legião de proletários se levanta para por tuta e meia cumprir os desígnios, entre outros, do direito internacional, do sonho americano, do sonho europeu? É, se não fossem os anti-americanos e anti-europeus primários isto já tinha tudo entrado nos eixos, corja de sabotadores, felizmente a comunicação social cá está para os silenciar e para a todos nos guiar, felizmente — há comunicação social.

Anónimo disse...

O REQUINTE DA IRONIA EM EXPLENDOR.

Luís Lavoura disse...

De facto o anti-russismo já vem de antes do comunismo, vem pelo menos do século 19 e da Guerra da Crimeia, quiçá de antes disso.
O anti-russismo no Reino Unido tem uma história muito longa.

Luís Lavoura disse...

Trump não tira todo o tapete à Ucrânia

Pois não, continua a fornecer-lhe "intelligence", mas tira-lhe o mais importante: o dinheiro e as armas.
Outra potência que tirou o tapete à Ucrânia é a China, que proibiu a exportação para a Ucrânia de componentes para o fabrico de drones. O resultado está-se já a ver no campo de batalha, com uma crescente escassez de drones entre os soldados ucranianos.
A Ucrânia é uma causa perdida. Resta saber quando a Europa assumirá isso.
Do projeto todo de subversão na Ucrânia resta o dinheiro do Banco Central Russo, que lhe foi roubado pela União Europeia.

josé ricardo disse...

Até posso concordar com o teor utilitarista deste seu texto. Se substituísse Estados Unidos da América por Rússia, mexendo aqui e ali na prosa, a mensagem alcançaria os mesmíssimos objetivos.

Anónimo disse...

Concordo. Somos uns ingratos. Nós, que temos tudo ou quase, que vivemos bem e livremente, que até podemos criticar quem assegura o nosso bem-estar, como ousamos ser contra quem derruba ditadores para instalar o caos, semear a desordem para melhor usufruir do que há?

Nós, europeus, podemos ficar tranquilos, até porque “a Alemanha está de volta”, como anunciou o Chanceler, e apoiante ativo do genocídio na Palestina, Friedrich Merz.
J. Carvalho

Anónimo disse...

Belo texto. parabéns

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Entre Belzebu e Asmodeus, venha o diabo e escolha.

Anónimo disse...

Curioso, eu tenho a impressão de que Trump enganou bem enganado Netanyahu e companhia.

Anónimo disse...

Para quem possuiu alguma informação do que tem sido a actuação dos EUA depois da II Guerra Mundial, é perfeitamente compreensível que se seja ou alimente uma boa dose de anti-americanismo. Desde essa altura até aos dias de hoje, com o ataque ao Irão (sem qualquer justificação), o que vemos é um sem número, ou uma lista incomensurável de intervenções militares, de bombardeamentos, de crimes de guerra, de instigação e coordenação de golpes de Estado (sobretudo na América Latina, alguns para ali colocarem assassinos no poder, como Pinochet, Videla, etc), de invasões (a de Grenada foi aliás caricata), etc, tudo isto em diversos Continentes, como a Ásia (os crimes de guerra no Vietname foram talvez dos mais bárbaros, mas outros ali à volta, Laos, Camboja, etc), no Médios Oriente (Síria, Iraque, Afeganistão, Líbia, etc), em África (Somália, Sudão, etc), na América Latina (os golpes de Estados incontáveis, entre outras patifarias), enfim, a lista é longa, demasiado longa. Se a isto juntarmos as mais de 800 bases militares instaladas por Globo fora, nalguns casos tratando-se de uma verdadeira ocupação, ou diminuição de soberania desses países (como por exemplo o Japão e a Alemanha), os EUA constituem de facto a maior ameaça à paz e o maior perigo para o Mundo. Não são a Rússia, a China, etc. Washington tem estado permanentemente em guerra e conflito por tudo quanto é lugar neste Mundo, desde o fim da II GM. Ora, nesse sentido, é compreensível que exista anti-americanismo. Infelizmente, muita gente convive bem com semelhante ameaça, que são os EUA. Naturalmente que tal atitude pressupõe, ou melhor, implica um comportamento subserviente perante
o “Tio Sam”.
a) P. Rufino

Carlos disse...

Eu viajei algumas vezes para os EUA e visitei algumas vilas e cidades mas realmente não tenho um conhecimento vivido do país. Infelizmente não será nos tempos mais próximos que terei oportunidade de atravessar o oceano para explorar as metrópoles da Costa leste, revisitar os lugares onde tiveram lugar momentos históricos da luta pelos direitos civis, navegar ao longo dos meandros do Mississipi e relembrar as histórias que enchem o imaginário infantil com as aventuras de Tom Sawyer e Huckleberry Finn, e caminhando para leste observar os grandes espaços outrora povoados pelas manadas de bisontes e mustangs e espraiar os olhos pela Costa do Pacífico.

Olhando a história de mais de 2 séculos da democracia americana e das personalidades que construíram este país, acho que há muita coisa de que os americanos se devem justamente orgulhar e também muitos momentos negros. Mas isto é comum á história de quase todas as nações e nenhuma delas pode arvorar a pretensão de uma qualquer superioridade moral. É a vida, faz parte da natureza humana! Um pouco de modéstia (atitude pouco comum nos cidadãos americanos) é condição necessária para alguém se poder reclamar cidadã do mundo …

Paulo Guerra disse...

Lá voltámos à logica dos blocos onde não é suposto criticarmos o nosso bloco que o Sr. Embaixador diz que não advoga. Quase como se tivermos o azar de ter um pedófilo na família não devemos denunciá-lo para manter o rebanho, por mais hediondo.

E o Sr. Embaixador nunca pensou que muitos dos europeus que criticam hoje a UE fazem-no precisamente pela valorização do pico da nossa civilização que os europeus construíram depois da WWII e aonde é que já vai?

No meu caso mais do que o futuro da Europa que não consigo vislumbrar, já me sentia feliz se a Europa recuperasse a liberdade e a dignidade de criticar um genocídio e uma agressão militar totalmente ilegal. Como a maioria criticou a invasão do Iraque em 2003

Ou tivesse impedido a guerra na Ucrania que destruiu um país de 40 Milhões de seres humanos, com todas as consequências económicas devastadoras para a Europa. Só mais um país. Que a NATO, que não ataca ninguém e que a Rússia não devia temer, como também diz o Sr. Embaixador, ajudou a destruir.

E se os europeus não se começarem a manifestar rapidamente no sentido de recuperar a sua soberania da oligarquia financeira que tomou totalmente Bruxelas no último crash, os últimos pilares desse pico como a escola, os cuidados de saúde e os fundos de pensões públicos, desaparecerão ainda mais rapidamente.

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